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TEXTOS DO PAI DE SANTO

Aqui você encontrará textos de autoria do Pai Marlus de Ogum. Aproveite esse momento para fazer uma reflexão com esse conteúdo exclusivo.

Boa leitura!!!

CONSCIÊNCIA E INCONSCIÊNCIA DENTRO DA UMBANDA

INCORPORAÇÃO E NÃO INCORPORAÇÃO 

É muito comum ouvir que o médium deve ser inconsciente durante as incorporações para que haja uma excelente comunicação por parte dos Espíritos Comunicantes; esse é um grande erro nos atuais dias. Passarei a explicar melhor nas linhas que seguem:

A comunicação por parte dos Espíritos remonta muito antes do que se pode imaginar; já nos tempos dos povos primitivos africanos ocorriam as manifestações por parte dos Espíritos; nos tempos dos Druidas ocorriam as comunicações espirituais de forma bastante marcante e acentuadas, e também, existem relatos históricos no Budismo, no Hinduísmo e em outras religiões orientais. O próprio Zoroastrismo, ou Mazdeísmo, difundido por Mazda ou Zarathrusta, datado do Século IV AEC (leia-se Antes da Era Cristã) na Ásia Central, destaca-se por rituais nos quais ocorriam as comunicações Espirituais.

Com o intervento das irmãs Fox, nos Estados Unidos da América, já no século XIX, através da Tiptologia (pancadas), as três irmãs ( Kate, Margaret e Leah) foram as precursoras do Espiritualismo Contemporâneo Ocidental. 

Após ouvir falar dessas três irmãs, e após ser convidado a participar de algumas seções espirituais (mesas girantes), o professor e pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido por Allan Kardec, foi tomado de grande curiosidade sobre os fenômenos que estavam ocorrendo na França, mais frequentes em Paris. É bom lembrar que o professor pedagogo já havia estudado Magnetismo Animal com o professor Pestalozzi na Suíça. Assim, imbuído de curiosidade e interesse para melhor compreender as manifestações espirituais que ocorriam naquela época, Kardec começou seu trabalho de CODIFICAÇÃO e ORGANIZAÇÃO das informações provindas dos Espíritos. Trabalhou arduamente para poder, em 1857, editar o seu primeiro livro sobre o assunto: O Livro dos Espíritos, o qual é composto por mais de 1000 perguntas e respostas, que esclarecem de forma clara e pedagógica sobre a atuação dos Espíritos em relação aos médiuns, pessoas comuns que têm a aptidão e a facilidade de comunicar-se com Espíritos já desencarnados. Assim ocorreu a criação da Doutrina dos Espíritos, ou como conhecemos atualmente, o Espiritismo. Vale lembrar que a doutrina foi criada pelos Espíritos (por isso o nome Espiritismo), e não por Kardec ( é muito errado falar Kardecismo). 

Já no Brasil, contemporaneamente a tudo isso que ocorria na Europa, as manifestações espiritualistas também ocorriam no Rio de Janeiro e na Bahia, precisamente em 1845, na localidade chamada Mata de São João, com os estudos do Magnetismo Animal, em que  José Bonifácio, o Marquês de Maricá, o Marquês de Olinda e tantos outros personagens importantes daquela época,  faziam parte desses grupos de estudos.

Assim, após a chegada do Livro dos Espíritos ao Brasil, iniciava-se o Espiritismo no Brasil.

Passados alguns anos, como é de conhecimento de todos, precisamente em 1908, na Cidade do Rio de Janeiro, o Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou-se através do médium Zelio Fernandino de Moraes, anunciando então a Umbanda no Brasil. Ressalto que a Umbanda não é uma religião espírita, mas sim espiritualista. Se fosse Espírita, seguiria o Pentateuco de Kardec, o que não ocorre, pois o Espiritismo não prevê ritualística e baseia-se em estudos, leituras, reflexões, aplicação de passes magnéticos, etc. Já, na Umbanda, temos toda uma ritualística bastante fundamentada nas orientações que foram passadas pelos Espíritos Manifestantes desde a sua criação.

No inicio da Umbanda, retomando o primeiro parágrafo destas anotações, era necessário que o médium se anulasse para permitir que o Espírito Comunicante pudesse passar a sua mensagem de forma fiel e clara; assim, ocorriam as manifestações (incorporações) INCONSCIENTES, com o intuito de corroborar na certeza de que realmente seria um Espírito que estaria se manifestando, passando a sua mensagem, abordando a vida da pessoa consulente. Com o passar dos anos, essa inconsciência deixou de ser necessária, pois, após inúmeras comprovações anteriores, não haveria mais a necessidade do médium anular-se durante uma consulta, podendo sim, este participar e interagir, através de seu conhecimento pessoal, somado ao conhecimento do Espírito Comunicante, para que a consulta fosse mais abrangente e mais rica, seja através da linguagem, da expressão e até mesmo das experiências já vivenciadas pelo médium.

Cabe aqui lembrar que a soma é muito mais que a divisão; assim, a somatória dos conhecimentos do médium, agregada à somatória dos conhecimentos do Espírito, resultam num produto mais intenso, capaz de promover uma ajuda maior a quem busca socorro nas Casas Umbandistas.

Também muito se questiona sobre a incorporação ou a não-incorporação do médium dentro do Terreiro; destaco a importância de cada membro da corrente umbandista dentro da Casa de Umbanda: o Cambonismo, os Ogãs, os Sambas, os médiuns que dão suporte através da doação magnética/energética, todos são importantíssimos para dar sustentação aos trabalhos que ocorrem dentro do Terreiro. Inúmeras vezes ouve-se alguém dizer: eu não incorporo, então a minha ajuda é nula… ledo engano; quem não incorpora (ou não está incorporado naquele determinado trabalho), não deixa de estar trabalhando; posso afirmar que a atuação desse médium é tão, ou até mais importante, que a atuação do médium que está incorporado dando consulta, pois, são esses médiuns que dão sustentação ectoplasmática aos trabalhos.

Assim, se você não incorpora, ou não incorporou em determinado trabalho, não fique melindrado com isso; você tem a sua importância bastante grande para que os médiuns que estão incorporados possam dar andamento nas atividades que estão ocorrendo na Casa.

Vamos lembrar do Hino de Umbanda: …a Umbanda é Paz e Amor, é um mundo cheio de Luz; é Força que nos dá Vida, e à Grandeza nos Conduz... Também agregaria aqui que a Umbanda é a Alegria de viver os ensinamentos dos Espíritos e a Alegria de diariamente poder ajudar e também ser ajudado.

Por Pai Marlus de Ogum

Teólogo Espírita

PECADO NA UMBANDA; EXISTE?

Comumente ouve-se falar: não faça isso por que é pecado; não pense assim por que é pecado; não comente isso porque é pecado.

Inicialmente precisamos compreender bem o que significa o termo Pecado: substantivo masculino utilizado dentro do contexto religioso judaico-cristão que significa a violação de um preceito religioso e que vai contra a vontade e os desígnos de Deus.

Levando tal conceito em conta, o risco de cometer algum pecado é muito grande, pois afinal, ninguém é perfeito ao ponto de não ter falhas durante o caminhar terreno.

Considerado a desgraça maior do mundo, o pecado apresenta-se em dois tipos:

- Pecado mortal: é quando comete-se alguma ação muito grave; assim, acredita-se que Deus é expulso imediatamente de quem cometeu a ação e com isso ocorre a privação da existência de Deus no pecador; ao cometer esse tipo de pecado, a pessoa está condenada ao inferno;

- Pecado venial: é o pecado leve que não priva o Ser Humano da Graça de Deus em sua vida, não sentenciando-o ao inferno.

Através do ato da confissão é possível o perdão desses pecados, permitindo que a pessoa volte a “fazer as pazes com Deus” e com isso não vá mais purgar as suas falhas no inferno, possibilitando que na hora da sua morte aquela pessoa seja salva; essa é a característica das religiões Salvacionistas.

Dentro das religiões espiritualistas o pecado não existe, pois, tem-se como fundamento, a Lei da Causa e Efeito: para toda causa existe um efeito, ou seja, um evento primário ocasionará um evento secundário correspondente àquele.

Conforme o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido por Allan Kardec, o poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito, ou seja, para cada causa inteligente tem-se um efeito inteligente.

Dentro da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec através das ricas esplanações dos Espíritos, no Universo tudo é encadeado, nada acontece ao acaso; por sua vez, a Lei de Causa e Efeito promove a colheita do bem a quem o pratica, sendo verdadeira também a situação contrária, ou seja, quem semeia o mal certamente não colherá o bem.

Portanto, tal situação permite à pessoa tomar as suas escolhas, estimulando nesse momento a Lei do Livre-Arbítrio, ascpecto da Lei Maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Vale lembrar que o Livre-Arbítrio é a ação do Espírito no limite do seu conhecimento e responsável na medida do seu entendimento.

Conforme o Livro do Espíritos, na pergunta 843, encontra-se o seguinte:

843-Tem o homem o livre-arbítrio dos seus atos?

“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.”

Ao seguir esse raciocínio, as pessoas são responsáveis pelos seus atos dentro do seu grau de compreensão; assim, o estudo constante, a busca pelas informações corretas, os esforços para atingir o conhecimento permitem ao Ser do ser humano libertar-se das amarras da ignorância, alçando vôo rumo à evolução.

A partir do momento em que a pessoa instrui-se começa a raciocinar de forma clara, compreendendo que através do conhecimento consegue nortear a sua vida de maneira a fazer o bem continuamente, pois sabe que deverá responder pelos seus atos caso incorra a uma ação não positiva.

Considerando as orientações acima, é possível afirmar que na Umbanda não existe Pecado, pois a Umbanda respeita o Livre-Arbítrio das pessoas e por conseguinte cada um deverá responder conforme as suas ações. Ainda, a Umbanda é uma religião reencarnacionista e acredita que o Espírito terá incontáveis oportunidades de aperfeiçoar-se através das também incontáveis encarnações pelas quais poderá passar. Jamais uma Criação de Deus, que possui a Centelha Divina em si, será fadada a passar a eternidade no fogo do inferno. Terá sim a oportunidade de evoluir através dos seus esforços, melhorando-se cada vez mais.

É importante lembrar que não deve ser deixado para amanhã (encarnações futuras) aquilo que é possível fazer hoje (atual encarnação), pois também seremos responsabilizados por todo e qualquer ato de displicência praticado enquanto estivermos encarnados.

“A semeadura é livre, mas a colheira é obrigatória”

 

Por Pai Marlus de Ogum

Teólogo Espírita

O PODER DE UM VÍRUS MICROSCÓPICO

Nos últimos dias tem-se ouvido falar muito sobre o CoVid-19, ou como è mais conhecido, o Coronavírus. Seu poder è aniquilador: age nas pessoas imunodeprimidas com muita ferocidade, muitas vezes levando a óbito o indivíduo infectado.

Nações inteiras vêm sofrendo as consequências da contaminação massiva. Isso tudo è muito triste.

Porém deve-se observar que as medidas de precaução para o não contágio são bastante simples: higiene pessoal é fundamental neste momento! Lavar as mãos a todo instante e não frequentar ambientes superlotados são umas das orientações que mais evitam a contaminação.

Diante de todas as dificuldades que pessoas estão enfrentando, é possível observar  algo positivo em tudo isso: ficar em casa é a grande orientação veiculada nesse instante, visando o resguardo do contágio.

Estando em casa, os pais encontram mais tempo para estarem próximos aos seus filhos; os esposos convivem situações diárias que já lhes eram esquecidas ou caídas no desuso. Os mais jovens disponibilizam-se em colaborar com os mais idosos, poupando-lhes uma ida ao banco ou ao supermercado. Famílias inteiras estão unidas e próximas dentro do ambiente familiar, dentro dos seus lares.

Todas essas medidas de precaução são para evitar o avanço do contágio do Vírus. Como sempre diz o Pai João de Aruanda, Espírito que sou muito feliz em servir como aparelho mediúnico, “o mato tem que morrer de sede”, ou seja, se não for dada a possibilidade de novos contágios, o vírus acabará se extinguindo, ou enfraquecendo.

Também è possível acompanhar correntes de orações que estão sendo feitas a cada instante: o Centro Espírita divulga uma mensagem recebida através da psicografia ou psicofonia; os Evangélicos Neopentecostais oram a Deus pedindo o livramento; os Católicos direcionam as suas preces pedindo a intervenção dos Santos junto a Deus para que a cura seja alcançada; os Umbandistas reforçam a Egrégora Energética da Casa Umbandista através das orientações que são passadas pelos Espíritos manifestantes ; e buscando encontrar suporte diante da situação caótica que está se descortinando no cotidiano das Nações,  o mundo todo se volta a Deus, à Força Criadora que comanda o Universo, cada um através das suas convicções religiosas, cada um através das suas crenças. Finalmente o Ser Humano está ligando-se  a Deus novamente.

Há quem diga esta situação ser um “castigo” de Deus… eu prefiro dizer que Deus está nos oportunizando a reencontrarmos o caminho deixado para trás a muito tempo: o caminho do amor, da colaboração, da fraternidade, da família, das amizades verdadeiras. O verdadeiro Caminho de Deus!

Convido você a fazer uma reflexão interna: pergunte-se se você tem sido um bom filho aos seus pais, se você tem sido um bom  pai, uma boa mãe, um bom irmão, um bom esposo, uma boa esposa, um bom amigo, um bom Ser de Deus! Se a resposta for SIM, perfeito! Você está no caminho certo. Caso a resposta seja um TALVEZ ou até mesmo um NÃO, agora è a hora de retomar o caminho dos verdadeiros valores, e com isso, ser feliz!

Por Pai Marlus de Ogum

Teólogo Espírita

AS MÃOS QUE VIBRAM NA LUZ DA ORAÇÃO

Dia de Gira, costumo chegar ao Terreiro para abrir as portas com tempo para que todas as tarefas e firmezas sejam feitas com calma e tranquilidade, afinal é importante que tudo seja preparado com a máxima atenção e a devida concentração. Muitas  velas devem ser separadas e firmadas para que tudo esteja dentro dos fundamentos da Umbanda antes de iniciar a Gira. O preparo Espiritual começa muito antes e nós, Médiuns, devemos também preparar o Terreiro e principalmente a nós mesmos.

No dia anterior à Gira começamos o nosso Preceito de 24 horas. Esse é um dos Fundamentos da Umbanda; trata-se apenas de um cuidado especial para com o nosso físico e principalmente com o nosso mental: seguimos a orientação de não nos alimentarmos de comidas pesadas e carnes. Também não fazemos uso de álcool ou qualquer outro entorpecente. Nos resguardamos sexualmente e procuramos manter os pensamentos e as emoções leves, sem nos contaminarmos com sentimentos tristes e nocivos.

Quando chegamos ao Terreiro, nossa Casa de Oração e Prática do Bem, vestimos roupas brancas para que estejamos todos iguais. Abraços, beijos, sorrisos são trocados, afinal é uma alegria imensa rever nossos irmãos de Fé.

Logo em seguida os pés desnudos sobre o chão nos reforçam os ensinamentos dos Pretos Velhos, quando a humildade impera. Também temos os pés tocando o solo sagrado, sobre o qual os trabalhos são feitos e a energia de Luz e Amor se propaga em meio a todos nós.

O toque dos Adjás, espécie de sino feito de metal, indica o inicio dos Trabalhos. Mãos postas em oração e também mãos que tocam o couro sagrado dos atabaques emanam Luz, pedidos, agradecimentos... anseios, certezas, alegrias, tristezas, amor e uma vasta gama de sentimentos contornam cada um dos membros da corrente mediúnica. Logo em seguida as nossas mãos se tocam e se unem permitindo que sintamos o pulsar do coração do nosso irmão de fé em nossas próprias mãos. Como Pai de Santo consigo sentir, como se numa corrente elétrica, todos os corações batessem num único ritmo, o rítmo da esperança e do bem. Até mesmo aqueles que estão distraídos são envolvidos por essa força e se deixam levar pela sensação do bem que se instala em todos nós.

Os trabalhos acontecem conforme as orientações dos Espíritos que comandam a Gira. Um trabalho é diferente do outro; cada um tem o seu magnetismo e a sua necessidade de ser naquele determinado dia. Porém, todos são igualmente lindos e fortes na sua essência.

Ao toque dos Adjás é anunciado o encerramento da Gira; novamente as mãos se unem em fé, luz e oração; agora os corações pulsam mais tranquilos e num rítmo quase que igual. Continuo sentindo a vibração de cada coração, porém agora é com os batimentos do agradecimento e da certeza de que amanhã será um dia melhor.

Após toda a ritualística de encerramento, novamente é hora dos abraços e beijos; os sorrisos agora são mais relaxados e os semblantes já não mais carregam aquela preocupação que foi trazida para dentro do Terreiro quando chegamos. Sabe Deus pra onde foram direcionadas, mas não estão mais conosco. Em nós carregamos todo ensinamento que foi passado durante os trabalhos e a certeza do bem que foi feito a nós e a todos que nos visitaram em nossa Casa, sejam encarnados e desencarnados.

Voltamos para as nossas casas; hora e tomar um bom banho relaxante, comer algo e repousar para estarmos prontos para a jornada no dia seguinte.

Mas antes de adormecer, nas minhas orações, agradeço incansavelmente a Deus pela oportunidade que tive nesse dia tão lindo. Fecho os olhos e, já com o sono pesando meus olhos, lembro-me daquela viradinha de cabeça que dei algumas vezes enquanto as nossas mãos se uniam em  oração; vejo Luz irradiando de cada um dos meus filhos, formando um facho norteador que ilumina os nossos corações e também os corações de quem se permite vibrar nessa frequência.

E adormeço...

E sonho...

E sou feliz!

A PRIMEIRA VISITA EM UMA CASA DE UMBANDA

Certo dia de Gira, ao chegar em frente à Casa do Pai João, vi que tinha um carro estacionado um pouco mais à frente; era um senhor que estava sentado no banco do motorista e olhava, discretamente, para o seu celular e para o número da Casa, como se estivesse se certificando do endereço.

Desembarquei do meu carro, abri o portão, cumprimentei a Tronqueira e em seguida abri também a porta. Comecei a fazer as firmezas da Casa e vi que o senhor esperava dentro do seu carro; ora olhava o celular, ora olhava para dentro do Terreiro, sempre muito discreto. Continuei com os meus afazeres.

Chega um filho da corrente, chega outro e mais outro; e o senhor continuava dentro do seu carro. Confesso que fiquei meio com medo, afinal aquela é uma região onde acontecem assaltos e furtos frequentemente.

Aí comecei a preparar-me emocionalmente para o início da Gira, pois preciso de uns instantes em silêncio para centrar meus pensamentos e minhas emoções; nesse momento sinto o Pai João ao meu lado: sorriso estampado no rosto, olhar penetrante e mãos firmes segurando a sua bengala. O seu sorriso disse-me: “tenha medo não, meu minino; o hómi do carro ta com medo; não sabe se entra ou se vai embora; tá inseguro porque é a sua primeira visita numa Casa de Umbanda”. De imediato entendi o que o Pai João queria me dizer.

Fui até o meu carro como se fosse pegar algo, disfarçando de leve. Aí cheguei até a janela do carro que estava aberta e disse ao homem:

- Posso ajudar com algo? Vi que o senhor está estacionado aqui desde antes de eu chegar e talvez precise de uma ajuda; se eu puder ser útil com algo, me diga.

Aí ele respondeu-me:

- Você frequenta o Terreiro?

- Sim – respondi. Sou o Pai de Santo da Casa.

- É que eu nunca vim num Terreiro; hoje está sendo a primeira vez e estou com um pouco de medo. Não sei o que vou encontrar, não sei se o “Santo vai baixar em mim”, tenho medo de ver algo e não gostar. Mas estou precisando ouvir uns conselhos e não tenho ninguem para desabafar.

Depois de ouví-lo, respondi que antes de qualquer coisa, um Terreiro de Umbanda é uma Casa de Oração; um lugar onde Deus está presente; falei sobre a Umbanda ser uma Religião Cristã e afirmei que não matamos animais e não cobramos nada pelos atendimentos.

Então ele sorriu-me e disse que logo iria descer.

Entrei novamente no Terreiro e fui fazer as minhas tarefas costumeiras antes da Gira.

Às 20 horas dei inicio aos Trabalhos e quando fui dar boa noite à Assistência, o vi sentado com uma fichina de consulta nas mãos (que ainda estavam nervosas) e um olhar de agradecimento em seu semblante.

Depois da Gira, já em casa, antes de dormir, como de costume agradeci pelo dia, pela Gira; e a imagem desse senhor veio-me à mente. Aí pensei: Todos nós já tivemos de enfrentar essa situação um dia. Todos nós já demos um primeiro passo para entrar num Terreiro, seja por necessidade ou por curiosidade. Alguns voltam porque gostam de acompanhar os trabalhos semanais; outros voltam para dar sequência a algum trabalho, outros voltam porque querem se consultar, querem se aconselhar, querem receber um abraço, um sorriso, ou ainda ouvir uma palavra amiga.

Como é linda a missão de uma Casa de Umbanda!

Como é linda a missão dos Médiuns de uma Casa de Umbanda!

Dessa forma vejo o quanto é grande e nobre o trabalho que nos propomos a fazer na Casa do Pai João!

Portanto, amigo consulente, seja sempre bem vindo à Casa do Pai João! Venha até nós com o seu coração aberto e com a esperança de que a Luz se fará em você. Venha se consultar, venha participar, venha ser você mesmo na Casa do Pai João! Abra o sorriso mais lindo que você tem quando estiver conosco! Seja feliz e carregue a felicidade em você!

Paz em seu coração e Luz em sua vida!

Saravá!

A UMBANDA E O HALLOWEEN

Na última semana recebi alguns questionamentos sobre qual é a visão da Umbanda em relação ao Halloween, já que nas redes sociais tem-se visto muitas publicações de Sacerdotes Católicos apresentando o seu parecer negativo sobre essa festa comemorada no dia 31 de outubro.

Para seguir em frente preciso voltar no tempo, cerca de mais de 2000 anos atrás; no Século V aec (antes da era cristã) os Celtas celebravam um festival pagão que chamava-se Samhain cujo objetivo era marcar o início do ano celta e também marcar o início do período do inverno no hemisfério norte. Para os Celtas era uma época na qual os mortos poderiam andar entre os vivos e assim os Celtas usavam apagar as tochas das suas casas, permanecendo no completo escuro; cobriam-se de panos para dar uma aparência assustadora e assim “espantar” os mortos que estivessem em seu meio.

Na Irlanda usava-se dar alimentos aos pedintes em troca de orações, os quais passavam de porta em porta fazendo as suas preces pela família daquela casa e em troca recebiam alimentos.

Essa tradição chegou aos Estados Unidos no final do séc.XVIII e início do séc. XIX; os alimentos, gradativamente, foram trocados por doces às crianças que fantasiavam-se com fantasias diversas. A idéia das fantasias fantasmagóricas e assustadoras foram incorporadas aos poucos por influência dos imigrantes haitianos e africanos que carregavam crenças vodu sobre gatos pretos, fogo e bruxaria.

Essa tradição chegou ao Brasil recentemente, em meado do séc. XX, popularizando-se nas últimas décadas.

A Igreja Católica e as Igrejas Neopentecostais condenam de maneira veemente essa tradição que se instalou em nosso País, dizendo que a mesma reporta à ideia de culto ao demônio.

Na Umbanda sequer damos ênfase ao demônio. Acreditamos sim que existem espíritos trevosos que se empenham em fazer o mal, porém, trabalhamos muito mais a mentalidade de vibrar numa frequência positiva e alta para não igualarmos as energias. Também nos dedicamos a ajudar no encaminhamento  desses espíritos à Luz Maior, ou seja, à Luz de Oxalá.

Assim,  em base aos meus conceitos como Pai de Santo e Dirigente Espiritual da Casa de Umbanda Pai João de Aruanda, não há mal algum em comemorar a festa da Halloween, pois trata-se de uma festa que pode ser comparada ao Carnaval, também considerada uma festa pagã por aquelas religiões.

O que saliento é a importância de não misturar as estações, ou seja, se você quer festejar o Halloween, faça-o de forma a não misturar com a Umbanda, pois esta é uma Religião de respeito e deve ser respeitada principalmente pelos seus Filhos de Fé.

Se quiser fantasiar-se  de vampiro, de esqueleto, de bruxa e de fantasma, faça-o com a consciência de que aquela é uma FANTASIA e não uma Entidade de Luz. Repudio fortemente e não admito que alguém diga estar “fantasiado” de Exu ou Pombagira, pois estes são Espíritos de Luz que trabalham seriamente no resgate de Espíritos sofredores que vagam pelo Polissistema Espiritual e não são uma alegoria para deleite de alguns.

Portanto, se quiser brincar de halloween, brinque à vontade! Divirta-se, dê risadas, surpreenda os seus amigos com uma fantasia bem criativa e assustadora. Certamente você será o centro das atenções nessa noite pela sua dedicação em fazer algo legal, mas não confunda essa situação com as Entidades que trabalham na Quimbanda nas Casas de Luz.

Lembre-se sempre que se você faz parte de uma Casa de Umbanda e segue essa Religião, é porque você quer. Então tenha uma conduta condizente com os Preceitos da Umbanda.

Saravá!

A CERIMÔNIA DE RECOLHIMENTO, DEITADA OU CAMARINHA NA UMBANDA 

A Umbanda, Religião genuinamente brasileira, tem os seus Fundamentos e Rituais específicos; entre eles posso citar um muito especial e lindo: o Recolhimento,  Deitada ou Camarinha, como é mais comumente conhecido.

Quando o Filho de Umbanda deita para o Orixá pratica a devoção pessoal promovendo uma conexão mais  intensa com o Orixá de Cabeça, abrindo o seu coração e a sua mente propondo-se a crescer e entender um pouquinho mais sobre a sua Religião.

Cada Terreiro tem a sua maneira de fazer esse ritual, mas basicamente todas são muito parecidas: os filhos permanecem deitados por algumas horas sobre uma esteira de palha, com a mente livre dos problemas externos, concentrando-se apenas na Energia do Orixá Regente da sua Corôa.

Neste último sábado, dia 25 de novembro, os Capitães, os Ogãs e as Sambas da Casa de Umbanda Pai João de Aruanda tiveram a oportunidade de se recolher em si, deitados no Chão Sagrado da Casa do Pai João. Foram seis horas que permaneceram voltados aos seus pensamentos e sentimentos, abertos às comunicações e às orientações de seus Guias e Mentores Espirituais.

Para encerrar a cerimônia, cada filho levantou-se da esteira incorporando o seu Guia de Frente e apresentando-se para o mundo, firmado toda a força e energia do Orixá que o rege, com o coração e a alma plenos e abastecidos de muito Axé e Luz.

Pai Marlus de Ogum

 Pai de Santo Curitiba | Pai João de Aruanda

AS FESTAS DE FINAL DE ANO

Um corre corre sem tamanho!
Compras, presentes, ceia, almoço! 
Todos querem fazer o seu melhor nas Festas de Fim de Ano. Todos querem usar uma roupa nova, oferecer um jantar saboroso, presentear com o melhor a quem é amado. Sem falar na decoração da casa: tudo tem de estar impecável para receber as visitas, senão “alguém pode sair falando”.
As crianças esperam ansiosas pela chegada do Papai Noel, esfregando as suas mãozinhas no nervosismo de receber (ou não) o presente desejado.
Os avós comentam as mesmas histórias dos Natais passados; todos já sabem como vai terminar a narrativa, tanto que alguns dos mais jovens nem sequer prestam a atenção mais... “é coisa de velho”...
E assim passam-se os dois dias de Natal. 
Uma semana depois já se tem o Ano Novo e tudo se repete: mesmos “causos” do passado, a ceia muda um pouco, as pessoas são as mesmas, com exceção de alguns mais novos que vão viajar com seus amigos para “aproveitar bem a virada do ano”... tudo isso na espectativa de que com a mudança do ano também os problemas se extinguam ou diminuam. Ilusão pura! Dia 1 de janeiro já traz consigo tudo que ficou pendente no dia 31 de dezembro, “lá no ano passado”.
Esses são os Natais de hoje em dia. Parece que perderam a graça. As pessoas até se esforçam para parecerem estar em clima de festa, mas o sentimento de festa já não está mais dentro das pessoas. E isso é devido à inversão de valores que se instalou vagarosamente dentro de cada um dos Seres Humanos: o Natal passou a ser comercio puro, pois tem-se de comprar, comprar, comprar...
À mesa da Ceia as pessoas já não mais dialogam; ficam olhando os seus celulares para conferir se alguem mandou uma mensagem nova; é necessário responder ao celular imediatamente, enquanto o idoso que está ao seu lado fala para as paredes e muitas vezes fica sem a sua resposta.
As crianças já nem mais sabem o real significado do Natal... Natal virou sinônimo de Papai Noel que, por sua vez, é visto como a “porta da esperança” de muitos, pois, através dele os desejos se realizam. Mal sabem que a fatura dos seus sonhos será paga em 10 vezes no cartão dos pais.
O abuso do alcool nessas festas é lastimável! Em certa altura da festa a embriaguês toma conta e aí começam os desentendimentos que irão perdurar até o Natal do próximo ano. 
É... os Natais não são mais os mesmos...
Porém ainda existe uma esperança! 
Sejamos LUZ por onde caminharmos! Levemos conosco o real sentido do Natal, na fraternidade, na humildade, no amor, na alegria!
Sejamos PAZ, acalmando os nossos anseios e incertezas!
Sejamos FÉ para que Jesus possa renascer diariamente em nós! 
Quem alimenta a Fé em si e no seu próximo, a Luz própria iluminando quem necessita, a Paz em si e ao seu redor promovendo o bem estar e a Alegria pela vida em viver cada dia dando o seu melhor em casa, no trabalho, na escola, no Terreiro, reconhece e vive o verdadeiro sentido do Natal.
Feliz Natal a você e aos seus!
Saravá!
Pai Marlus de Ogum

 Pai de Santo Curitiba | Pai João de Aruanda

REGÊNCIA EM 2024

O ano de 2024, segundo muitos oráculos e Babalorixás, será regido por duas forças com muito destaque dentro da nossa religião:  Exu e Omolu.
Ambos,  na Casa de Umbanda Pai João de Aruanda,  são Entidades que são reverenciadas com muito respeito,  dedicação e zelo. 
O primeiro,  Exu,  carrega consigo a tarefa de mensageiro de Oxalá. Por isso de sempre o saudarmos antes e depois de todas as Giras, pedindo a sua proteção para os trabalhos que serão feitos na Casa; e depois,  ao final,  agradecendo pela proteção dada.
O segundo,  Omolu, carrega consigo o poder da cura e também das enfermidades. Este também é saudado no início de todas as Giras de Quimbanda, quando o reverenciamos e pedimos a sua proteção e cura para todos os tipos de enfermidades,  sejam elas físicas,  psíquicas ou espirituais.
Sendo essas duas forças regentes do novo ano,  dento do meu entendimento,  vejo 2024 sendo um ano bom para todos, desde que vigiemos os nossos mais íntimos desejos e pensamentos.  
Exu, por estar muito próximo a nós,  entrega a Oxalá tudo o que pensamos e desejamos e Omolu nos traz as curas necessárias para o nosso crescimento. 
Mas isso não deve ficar somente por conta deles.  É importantíssimo que cada um de nós faça a sua parte, pois,  se pensarmos e desejarmos o bem,  é isso que Exu levará até Oxalá, é essa energia que nos permeará.  Em consequência,  Omolu trará a cura daquilo que precisamos para melhorarmos como pessoas,  como Seres de Luz que somos por natureza, afinal,  carregamos em nós a Centelha Divina que anima os nossos Espíritos. 
Assim,  se intencionarmos o bem,  é o bem que teremos para nos curar e nos acompanhar diariamente. 
Se os nossos pensamentos forem distorcidos e doentios, o que chegará  até nós é a enfermidade, podendo essa ser física,  psíquica, emocional ou espiritual. 
Portanto,  estejamos atentos àquilo que vibramos. Cuidemos dos nossos pensamentos,  sentimentos e atitudes, para que as nossas ações sejam no amor,  no bem,  na alegria e na fraternidade vislumbrando que o retorno disso tudo seja o alento e a cura que buscamos dentro da nossa evolução espiritual. 
Saravá! 

Pai Marlus de Ogum  -  Teólogo Espírita

 Pai de Santo Curitiba | Pai João de Aruanda

23 DE ABRIL - DIA DE OGUM

23 de Abril è dia de São Jorge. Por conta do Sincretismo coma Igreja Católica, també, o Orixá Ogum é festejado nesta data!
Já cedo comentei isso com uma amiga e ela perguntou-me como é ser filho de Ogum. Para respondê-la não precisei pensar muito; acho que como bom filho de Ogum que sou, essa resposta já estava em mim, em meu coração. 
A resposta foi a seguinte:
“Ser Filho de Ogum é a certeza de que jamais estou sozinho; é a certeza de que Ogum está junto a mim, em cada passo, em cada estrada, em cada desafio. É a certeza de que a cada dia acontecem novos pequenos milagres em minha vida. 
Ser filho de Ogum é olhar o horizonte e saber que aquela linha não é o fim e que eu posso chegar até lá se eu quiser.
Ser filho de Ogum é encher os pulmões de fôlego e sentir um novo dia se aproximando com novas oportunidades de fazer melhor hoje aquilo que não consegui fazer ontem. 
Ser filho de Ogum é abraçar, sorrir, chorar, resmungar, tudo ao mesmo tempo, para tudo isso terminar em uma boa risada descontraída.
Ser filho de Ogum é lutar e mesmo na possibilidade da derrota, sentir-se vencedor. É a alegria de viver cada dia intensamente e sem amarras.
Ser filho de Ogum é a melhor coisa que tem!”
Essa amiga olhou-me com seus olhos marejados e perguntou-me como ela poderia fazer para ser filha de Ogum; respondi que bastava chamá-lo de Pai...
Salve São Jorge!!!
Saravá Ogum!!! Ogunhê!!!

 Pai de Santo Curitiba | Pai João de Aruanda

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